quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Mais uma agulha achada: último álbum lançado por Itamar Assumpção

Último álbum lançado em vida por Itamar Assumpção, Pretobrás, ano de 1998. Nem é agulha, é uma pérola! 

Link do álbum completo: Pretobrás (1998)
https://www.youtube.com/watch?v=3JXwpA48OzU


Itamar Assumpção nasceu na cidade de Tietê, São Paulo em 13 de setembro de 1949. Bisneto de angolanos, cresceu ouvindo Jimi Hendrix e apaixonou-se pelo baixo. Mudou-se para a cidade de São Paulo em 1973 para dedicar-se somente à música. 

Foi um dos nomes presentes na cena musical alternativa paulistana nos anos 70 e 80 cujo movimento chamava-se Vanguarda Paulista. A Vanguarda Paulista era a reunião de diversos artistas, entre eles, Arrigo Barnabé, Preme (Premeditando o Breque) que decidiram romper com o controle das gravadoras. Esses artistas produziam e lançavam seus álbuns independentes das grandes gravadoras.

Itamar era conhecido como o maldito da MPB, músico, compositor e instrumentista e tocava na banda Isca de Polícia. Misturava muitos ritmos desde rock a funk e suas letras tinham forte crítica social banhada de sátiras. Faleceu em 12 de junho de 2003.
Todo dia ela faz tudo sempre igual... Compra um croissant de queijo pra comer enquanto aguarda o ônibus antes do trabalho.
Acho que essa música representa bem meu retorno.  

domingo, 8 de dezembro de 2013

WHERE IS THE HELL MATT?

Onde "diabos" está o Matt? Talvez ele seja alguma agulha perdida...
O que leva alguém sair de sua cidade e decidir gravar sua "dança meio estranha" pelos arredores do mundo?

Bem, este é Matt Harding, um designer de games que entre 2003 e 2004 decidiu registrar "sua dancinha esquisita" como diz ele "Dancing Badly Around the World"(dançando pessimamente ao redor do mundo) em alguns pontos inusitados do planeta. Tamanho foi o sucesso do seu primeiro filme que ele ganhou patrocínio para seguir com o projeto em outras edições, posteriormente, incluindo os nativos das localidades em que gravava.

Para conhecer o projeto acesse no link abaixo. E fique de olho nas próximas datas: quem sabe ele possa estar na sua cidade para que você também participe junto dessa grande estranha dança da vida?

LINK: http://www.wherethehellismatt.com/

Abaixo disponibilizei a 1ª versão editada em 2005 e a 4ª versão produzida em 2012, sendo esta a mais recente. 

 2005 


2012


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Desassossego de Fernando Pessoa

...Eu tenho uma espécie de dever, de dever de sonhar
de sonhar sempre, pois sendo mais do que uma espectadora de mim mesma,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso,
e assim me construo a ouro e sedas,
em salas supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho entre
luzes brandas e músicas invisíveis.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Henry Miller


Trechos do romance Trópico de Câncer 

"Hoje sinto orgulho de dizer que sou inumano, que não pertenço a homens e governos, que nada tenho a ver com a maquinaria rangente da humanidade – eu pertenço à terra!" 

"Lado a lado com a espécie humana corre outra raça de seres, os inumanos, a raça de artistas que, incitados por desconhecidos impulsos, tomam a massa sem vida da humanidade e, pela febre e pelo fermento com que a impregnam, transformam a massa úmida em pão, e pão em vinho, e o vinho em canção. Do composto morto e da escória inerte criam uma canção que contagia. Vejo esta outra raça de indivíduos esquadrinhando o universo, virando tudo de cabeça pra baixo, e os pés sempre se movendo em sangue e lágrima, as mãos sempre vazias, sempre se estendendo na tentativa de agarrar o além, o deus inatingível: matando tudo ao seu alcance a fim de acalmar o monstro que lhe corrói as entranhas." 

"E tudo quanto fique aquém desse aterrorizador espetáculo, tudo quanto seja menos sobressaltante, menos terrificante, menos louco, menos delirante, menos contagiante, não é arte. Esse resto é falsificação. Esse resto é humano. Pertence a vida e à ausência de vida."

"Se sou inumano é porque meu mundo transbordou de suas fronteiras humanas, porque ser humano parece uma coisa pobre, triste, miserável, limitada pelos sentidos, restringidas pelas moralidades e pelos códigos, definida pelos lugares-comuns e ismos."

"Tenhamos um mundo de homens e mulheres com dínamos entre as pernas, um mundo de fúria natural, de paixão, ação, drama, sonhos, loucuras, um mundo que produza êxtase e não peidos secos."



*Henry Miller, nasceu em Nova York em 1891, além de escritor foi lixeiro, coveiro, vendedor de livros e trabalhou em uma companhia de telégrafos. Em 1924, larga seu emprego para se dedicar totalmente à literatura. Miller muda-se para Paris em 1930, torna-se voluntariamente exilado junto com outros cidadãos estadunidenses em prol da liberdade moral dos franceses. 

Trópico de Câncer, seu primeiro livro, foi publicado em 1934, em Paris, com ajuda de Anaïs Nin. Em 1940, a Segunda Guerra obriga Miller a voltar aos Estados Unidos, mas seus livros são proibidos no país, sob acusação de obscenidade. Foi somente na década de 60, especificamente em 1961 que seus livros foram autorizados e Miller reconhecido como um grande autor.  

Sua trilogia autobiográfica Sexus (1949), Plexus (1952) e Nexus (1959) seria liberada em 1964, após uma série de processos judiciais. Henry Miller morreu em 1980, em Los Angeles (EUA).





quinta-feira, 25 de abril de 2013

Sobre o amor [5]


Mais “gatorinha no mundo”, por favor...
O mundo só vai prestar
para nele se viver
no dia em que a gente ver
um gato maltês casar
com uma alegre andorinha
saindo os dois a voar
o noivo e noivinha
Dom Gato e Dona Andorinha.

O gato Malhado e a andorinha Sinhá, de Jorge Amado






sexta-feira, 12 de abril de 2013

Muita agulha que ainda quero colocar nesse palheiro

Tal qual ao poema Reticências* de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa), estou assim no Agulha Perdida. Tanta coisa para colocar aqui, tanta agulha a ser resgatada, revivida e expressada.

Já possuo uma lista BEM GRANDE de coisas para colocar ainda neste espaço. Agulhas que achei há muito tempo e outras que saltaram para mim recentemente. Coisa boa e interessante. O maior impeditivo é que não tenho tido tempo para organizar tudo aqui. Então, essa postagem virou mais um mural de desabafo do que uma agulha perdida na arte.


Desabafo MODE ON
Bom, estou no meio de semestre, organizando as montagens dos alunos que apresentarão entre Junho e Julho. Ao total são cinco turmas entre 7 a 13 anos. Estamos na fase de ensaios das peças, algumas estão mais adiantadas que as outras, como sempre. Quero um dia, poder divulgar com calma tudo o que foi desenvolvido em conjunto com eles. Em breve, colocarei os nomes das peças. Muito mais que o resultado, o processo é o que mais interessa. Desabafo MODE OFF.



*Reticências, de Álvaro de Campos

Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na ação. 
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado; 
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!
Vou fazer as malas para o Definitivo, 
Organizar Álvaro de Campos, 
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem - um antes de ontem que é sempre...
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura...
Santos Deuses, assim até se faz a vida!

Os outros também são românticos, 
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres, 
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar, 
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos, 
Os outros também são eu. 
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente, 
Rodinha dentada na relojoaria da economia política, 
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios, 
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida...
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela, 
Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela, 
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafísica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,  
Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando, 
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,  
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra...

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Imperdível - Comunicação a uma academia

Essa é uma notícia muito boa e recomendável!

Está de volta o espetáculo da Companhia Club Noir Comunicação a uma academia de Franz Kafka, direção Roberto Alvim com Juliana Galdino e Zé Geraldo Jr.

Local: Centro Internacional de Teatro - ECUM (Rua da Consolação, 1.623 - São Paulo)
Curtíssima temporada de 17 de abril a 9 maio (quartas e quintas às 21h).

Esse espetáculo teve sua estreia em 2009 onde ficou em cartaz durante um ano na sede do Club Noir e depois foi encenado em diversas cidades e festivais.


                                                   Juliana Galdino interpreta Pedro, o Vermelho

"Diante de uma Academia não especificada, um macaco (Juliana Galdino), se apresenta, visando fazer uma estranha comunicação: o relato de como se tornou humano. Separado por uma linha divisória dos excelentíssimos senhores acadêmicos e vigiado constantemente por um discreto, mas atento, guarda armado, ele fala. E ao falar, o processo de transformação gradual e incontornável através do qual se tornou o que não era.  Uma metáfora terrível de toda forma de condicionamento, colonialismo, adestramento e aculturação, o texto de Franz Kafka suscita a reflexão a respeito de questões urgentes em nossa época globalizada."

Teve indicação ao prêmio Shell na categoria atriz em 2009 devido à magistral interpretação da Juliana Galdino. Vale a pena conferir o vídeo abaixo onde o macaco Pedro concede uma entrevista a Armando Antenore da Revista Bravo.



Fonte: http://ciaclubnoir.blogspot.com.br/



Encontro na madrugada com Pablo Neruda



O Poeta Age em Qualquer Ambiente

Não reclamo para mim qualquer privilégio de solidão: só a tive quando me impuseram como condição terrível da minha vida. E escrevi então os meus livros como os escrevi, rodeado pela adorável multidão, pela infinita e rica multidão do homem. Nem a solidão nem a sociedade podem alterar os requisitos do poeta, e os que se reclamam de uma ou de outra exclusivamente falseiam a sua condição de abelhas que constroem há séculos a mesma célula fragrante, com o mesmo alimento de que o coração humano necessita. Mas não condeno os poetas da solidão nem os alto falantes do grito coletivo: o silêncio, o som, a separação e integração dos homens, todo este material para que as sílabas da poesia se juntem, precipitando a combustão de um fogo indelével, de uma comunicação inerente, de uma herança sagrada que há mil anos se traduz na palavra e se eleva no canto.

Pablo Neruda em Nasci para nascer (Discurso na entrega do prêmio Nobel)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Mickey 3D Respire

Qual seria a relação deles com o Mickey House? Nenhuma. Mickey 3D é uma banda pop rock francesa formada em 1997 na comunidade de Montbrison, Loire região central da França onde o vocalista chama-se "Mickaël Furnon", logo seria similar ao nome Mickey e "3" por eles serem um trio. Além de Mickaël Furnon (Mickey), integram também à banda Aurélien Joanin (Jojo) e Najah Al Mahmoud.

Pouco material deles está disponível para baixar e difícil encontrar até algumas músicas no youtube porque foram bloqueadas pela EMI em terras brasilis.

Descobri a banda através do single Respire (2003) por acaso  “e ainda bem” num blog que nem existe mais. Foi paixão à primeira ouvida, ou melhor, à primeira vista. Porque tanto a música quanto o clipe são incríveis.

O clipe é feito em animação e passa uma mensagem muito significativa e reflexiva com relação ao futuro do planeta e a nossa relação com meio ambiente. A direção é assinada e dividida por Jerôme Combe, Stéphane Hamache e André Bessy. 


                               
                                                              Respire Mickey 3D

É curioso como não se tem o hábito de apreciar a música francesa aqui no Brasil. Logo, ficamos sem acesso e perdemos muito por não conhecer a elegância e musicalidade das canções contemporâneas francesas.  E o pouco que se tem não é disseminado nas mídias. Eu, particularmente gosto muito dos álbuns Tu vas pas mourir de rire e La grande évasion

Vou disponibilizar aqui uma palhinha de cada álbum deles para vocês apreciarem. 


1999 1° álbum - Mistigri Torture (La France a peur)

2001 2° álbum - La Trêve (Tu dis mais ne sais pas)

2003 3° álbum - Tu vas pas mourir de rire (Les gens rasionnables)

2004 4° álbum Live à Saint-Etienne (Johnny Rep) 

2005 5° álbum Matador (La mort du pueple) 

2009 6 álbum La grande évasion (1988)


quarta-feira, 3 de abril de 2013

Sobre reparos

Olhar para reparar. 

Olho René Magritte



Sobre o amor [4]

Duas crianças imaturas, verdes para amar que preferem brincam de se esconder por medo machucar o outro.

Maçãs René Magritte


Sobre viver

O mundo, em geral, pede mais para eu estar do que ser.


A queda René Magritte

domingo, 31 de março de 2013

Simplesmente Martha Ou Sem Reservas


O primeiro filme que assisti deste gênero A Festa de Babette, bem, digo gênero porque na minha opinião deveria ter um nome específico para classificar filmes que homenageassem a arte da culinária. Afinal, o cinema visita à boa mesa há muito tempo. Até a Animação não ficou de fora: Ratatouille, um rato que vive em Paris e sonha ser um Chef de Cozinha toda a trama gira em torno de fazer um prato com berinjelas, abobrinhas e cenouras entre outras façanhas.

Gastronomia e Cinema, é uma dupla que aprecio muito bem já faz um tempo. Tenho uma coleção de filmes que assisti e que recomendo. Essa apreciação não vem somente pelo tipo de filmografia ou pelo modo como fazem a comida ou pelas dicas de receitas. Parece que os personagens ganham um toque especial: quem cozinha em filmes, parece ter uma certa mágica disfarçada de conhecimento sobre a vida, enquanto cozinham vão falando, vão combinando os temperos ou iguarias e ao mesmo tempo vão passando suas experiências tão peculiares acerca da vida.

Além disso, os filmes com o tema da comida provocam diretamente dois dos nossos cinco sentidos: olfato e o paladar. O olfato está muito relacionado como processamos nossos sentimentos, lembranças: sejam elas boas ou ruins. E o paladar é que nos motiva a reconhecer os gostos. E o que mais me intriga entre a combinação Cinema e a Gastronomia / Culinária, quando esses filmes são apresentados, é perceber como é possível transmitir ao espectador uma mensagem através de um simples prato de comida?

Bom, os dois filmes que menciono abaixo praticamente se passam na cozinha de um restaurante, um local que raramente vamos, mas que temos uma imensa curiosidade para conhecer.

Escolha seu cardápio e bom apetite!

Começo falando por Simplesmente Martha (2001) filme de origem alemã que ganhou sua versão hollywoodiana em 2007 pelo nome de Sem Reversas. Bom, vou falar muito pouco sobre a 2ª versão porque a filmagem foi feita valorizando o gênero comédia romântica, onde todos os clichês se enrolam e desenrolam de maneira superficial, logo fica ínfimo para toda a sensibilidade da versão germânica. Por aí, já se pode concluir que recomendo assistir a versão original, certo? Errado. Sugiro, assistir os dois até porque a relação entre os personagens fica sutilmente diferente quando enquadradas no formato estadunidense. Incrível, mas acontece!

A partir daqui pode ter S.P.O.I.L.E.R.

Simplesmente Martha (2001) - Direção Sandra Nettelbeck



Martha (Martina Gedeck) , uma mulher sisuda, Chef de cozinha de um restaurante chique em Hamburgo, Alemanha. Ela sabe fazer os pratos mais requintados, porém está à beira de um stress por ser muito rígida com a própria vida. Não têm relações com seus colegas de trabalho. Logo, é obrigada a fazer terapia por exigência de sua patroa. Na verdade, tudo isso é velado para mostrar a sua não habilidade para conviver com as outras pessoas onde a comida é a única maneira como ela consegue se comunicar com as pessoas.

Até que um acontecimento provoca mexer com esse universo tão hermético: sua irmã falece em um acidente, ela é obrigada a ser tutora da sobrinha de 8 anos, Lina (Maxine Foerste) . Ao mesmo tempo, a sua patroa contrata Mario(Sergio Castellito), um Chef italiano, simpático e extrovertido.

Lina via morar com ela. Começa a primeira invasão do seu espaço. Em seguida, a contratação de Mario, como sub-chefe provoca em Martha um sentimento de ameaça profissional. Mario esbanja simpatia e leveza na combinação dos temperos. Conquista a todos, inclusive Lina. Por outro lado Lina, sente muito a falta da mãe, as duas não conseguem relacionar-se de forma tranquila. Há um choque muito grande tanto pela perda da mãe como pela maneira que Martha cuida dos afazeres com Lina. A menina não aceita o seu jeito de cuidar. Martha por sua vez perde controle da situação que vai ficando cada vez mais problemática. Esta adaptação provoca até greve de fome em Lina, que rejeita a comida preparada por Martha.

Tudo parece óbvio para o desfecho que os opostos se atraem e basta ter uma simples criança para que uma pessoa solteira (o) comece a se sensibilizar e tudo fica azul dentro de um mundo perfeito, certo? Nem tanto. É aí que Martha vai desconstruindo sua sisudez por uma convivência forçada onde ela precisa amadurecer emocionalmente e ao mesmo tempo construir uma relação entre tia e sobrinha que até então, não havia.

Nesse ínterim, temos Mario, uma pessoa que encara a vida profissional como um bon vivant. Tudo é arte, inclusive o ato de cozinhar. Mesmo que se use ingredientes simples para fazer algo que entusiasme as pessoas, como se fosse uma magia. Há uma cena que ele vai cozinhar no apartamento de Martha para ela e sua sobrinha. Ele deixa Martha vendada para que possa saborear a comida, para que se descubra outras sensações além do 'comer com os olhos' onde a cena impera silêncio e uma grande reflexão do que ela tem colocado pra dentro de si. Martha precisa redescobrir o sabor pela comida, ou melhor, redescobrir o sabor pelas coisas da vida. Essas sutilezas vão se perdendo na versão remake Sem Reservas onde o roteiro fica mais enxuto, mais focado nos clichês das comédias românticas do que nas relações humanas ou nas possibilidades de transformação como ocorre com a protagonista Martha ao longo da história.
Dica: Quando assistir Simplesmente Martha, fique até os créditos porque terá uma bela surpresa no final. Muito interessante. Não vou revelar, mas vale a pena.


Sem Reservas (2007) - Direção Scott Hicks




A história se passa em Manhatan com Caterine Zeta-Jones (Kate Armstrong-Martha) e Aaron Eckhart (Nick-Mario) no elenco, e 'tentando' seguir a mesma receita do bolo. Não sei se o leitor deste blog perceberá, mas há um jogo de 7 erros na apresentação dos personagens de um filme para o outro. Em Sem Reservas apresentei valorizando o elenco e não os personagens. Isso para mim, já conta com uma grande diferença desta versão remake. Uma proposta mais comercial sobre a história. E se considerarmos que Simplesmente Martha seja um apenas bolo, vale lembrar que faltou fermento e foi colocado muito chantilly e cereja nesta receita, na minha opinião.

Agora se você deseja e gosta de assistir comédias românticas bobas onde duas pessoas bonitas que se odeiam e obviamente vão se apaixonar no final, com pitadas de beleza, elegância e cheios de maneirismos:  este pode ser seu prato principal do dia, mas não vá esperar muita coisa mais que isso.

Nesta versão, houve cortes significativos de roteiro e cortou principalmente a carga da protagonista do Simplesmente Martha, colocando uma mulher mais dentro dos padrões da modernidade: típica personagem de estatística consumo do que um ser humano cheio de conflito.

O ponto alto do filme é a química do casal que vale a pena assistir pelos atores que gosto muito, porém não nesses papéis. E pela fofa da Abigail Breslin, que faz a sobrinha Zoe (Lina).

P.S. Existem outros filmes que admiro onde o personagem principal acaba sendo a comida. Com certeza, em breve postarei aqui. 
Esses dois filmes, não se resumem apenas a isso. Eu quis fazer uma postagem que falasse de um filme de Culinária  onde a personagem principal (cozinheira) fosse uma pessoa cheia de conflitos,  porém sem aquela 'sabedoria' que descrevi no início da postagem. 

segunda-feira, 25 de março de 2013

É preciso "claricear"

Um nome para o que sou importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser. O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Porque foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de “a protetora dos animais”. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la. E eu sentia o drama social com tanta intensidade que vivia de coração perplexo diante das grandes injustiças a que são submetidas às chamadas classes menos privilegiadas. Em Recife eu ia visitar aos domingos a casa de nossa empregada em mocambos. E o que eu via me fazia prometer que não deixaria aquilo continuar. Eu queria agir. Em Recife onde morei até os 12 anos de idade, havia muitas vezes nas ruas um aglomerado de pessoas diante das quais alguém discursava ardorosamente sobre a tragédia social. E lembro-me de como eu vibrava e de como eu me prometia que  um dia  esta seria minha tarefa: a de defender os direitos dos outros. No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura profundamente o que sente e usa a palavra que o exprima. É pouco, é muito pouco.

Clarice Lispector - Aprendendo a Viver


domingo, 24 de março de 2013

Come Together

A música Come Together (uma das minhas favoritas dos Beatles) está no penúltimo álbum Abbey Road gravado no ano 1969.   Naquele mesmo ano, Timothy Francis Leary, Ph.D.*, conhecido na década de 60 como o guru do LSD devido aos seus experimentos psicotrópicos, Leary lança sua candidatura ao governo da Califórnia com o slogan Come Together, Join The Party que significava  "Venham, Juntem-se ao Partido ou, no caso, à própria Festa".

Há relatos que esse slogan serviu de inspiração para John Lennon compor a canção em conjunto com Paul McCartney. Timothy Leary não foi eleito, mas a música serviu de inspiração para uma série de músicos regravarem posteriormente.

O mais interessante é que grande parte das versões seguiram a mesma estrutura musical da versão original, com raras exceções de mudança.

A lista completa de versões está aqui:
http://en.wikipedia.org/wiki/Come_Together

Listei abaixo as 10 regravações mais notáveis desta canção.

Vamos conferir, qual é a melhor? 

1ª versão - The Supremes 1970
http://www.youtube.com/watch?v=5dCMcb0GLtI

2ª versão - Diana Ross 1970
http://www.youtube.com/watch?v=7iytAuPYIVM

3ª versão - Chairmen Of The Board 1970 
http://www.youtube.com/watch?v=odX_AXXOKS4

4ª versão - Tina Turner 1976
http://www.youtube.com/watch?v=yqAkdxjneig

5ª versão - The Brothers Johnson 1976 
http://www.youtube.com/watch?v=9_teYceiimE

6ª versão - Aerosmith 1978
http://www.youtube.com/watch?v=-LXTX0TwEEc

7ª versão - Eurythmics 1987
http://www.youtube.com/watch?v=lZDKc-ZM-Bo

8ª versão - Michael Jackson, do filme Moonwalker 1988
http://www.youtube.com/watch?v=Ofv5Wo_3WJM

9ª versão - Joe Cocker, do Filme Across the Universe 2007  
http://www.youtube.com/watch?v=xe55TPAo6nU

10ª versão - Arctic Monkeys para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos 2012 
http://www.youtube.com/watch?v=o_ZOVmuxnsQ


*Timothy Leary foi psicólogo, escritor, neurocientista e Professor de Harvard. 




segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Começarei o ano bem - Destino

Bem, antes de começar sobre o assunto da postagem, quero dizer que estou de férias.  Não estou viajando ainda,  mas pretendo fazer uma parada geral de poucos dias. Então, pode ser que Janeiro seja bem pouco provável que tenham muitas postagens por aqui.

Até porque, este blog não vai acompanhar as notícias do momento e novidades que acontecem pela mídia ou nas redes sociais. Pelo menos, esse não era o intuito inicial, mas sim, resgatar algumas coisas empoeiradas, enferrujadas e interessantes para que vocês vejam e/ou revejam aqui.

Encontro meteórico - Walt Disney & Salvador Dalí. 

O que poderia acontecer quando dois grandes gênios se encontrassem? Bom, parte da resposta fica por conta do vídeo no anexo abaixo.

Trata-se do projeto chamado Destino, um curta metragem iniciado em 1946 pela parceria Disney-Dalí, porém nunca foi concluído. Disney era fascinado pelas técnicas modernas de arte. Sem dúvida, a versão completa de Destino seria uma sensação sem medidas, uma revolução cinematográfica usando técnicas a frente de seu tempo.

Ao que tudo indica o  projeto foi interrompido por falta de verba. Restando apenas, um negativo de 17 segundos do curta original e contendo 15 pinturas de Dalí onde ficou engavetado por 50 anos nos estúdios da Califórnia, mas graças a Roy Edward Disney, sobrinho de Walt Disney, decidiu retomar o projeto e finalizá-lo em 2003.

A ideia do vídeo seria uma cena poética sobre o amor e o tempo baseado na música Destino do cantor mexicano Armando Dominguez.  O enredo do filme variava de acordo com a descrição de cada artista. Dalí dizia ser "Uma exposição mágica do problema da vida no labirinto do tempo". Já Walt Disney dizia "Somente uma simples estória sobre uma jovem garota em busca do verdadeiro amor".

O vídeo conta a história de amor entre Chronos - a personificação do tempo na mitologia grega - e uma mulher mortal.

Foi premiado como Melhor Curta nos festivais de Melbourne na Austrália e no Rhode Island Internacional nos Estados Unidos. 

Vale a pena conferir este trabalho inusitado, mas incrível, com a qualidade Disney e o universo surrealista de Dalí. 





segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Sobre o amor [3]


Porque adoro falar comigo na 3ª pessoa do singular. 

Natal&Fernando Pessoa&Saudade

Dizem que o tempo resolve tudo. A questão é: quanto tempo? - Alice no País das Maravilhas

Pensei que fosse forte, mas não sou. Natal. Final de Ano. Toda vez que chega essa época: as luzes, as músicas, os sorrisos, a confraternização, as compras e as árvores enfeitadas não têm o mesmo frescor do passado.Cada ano que passa, a saudade parece que perfura meu peito de saudades.

Para você: minha querida mãe, onde quer que você esteja!

Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui - ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterônimo de Fernando Pessoa

domingo, 23 de dezembro de 2012

Edward Steichen, um olhar distante.

Edward Steichen foi uma das figuras importantes da história da fotografia. Nasceu em 1879, no Luxemburgo, mas ainda criança mudou-se para os Estados Unidos.

Aos 16 anos começou seu trabalho como fotógrafo e aos 21 foi para Paris para estudar pintura. Em Nova Iorque, em 1905, juntou-se ao fotógrafo estadunidense Alfred Stieglitz e abriram a Gallery 291 aonde realizaram as suas primeiras exposições de alguns dos pintores mais representativos do século XX. No ano seguinte, Steichen voltou a Paris, onde fez experiências com a fotografia e a pintura, entre outras coisas. Em 1923, regressou à Nova Iorque como fotógrafo-chefe das revistas Vanity Fair e Vogue.

Durante a II Guerra Mundial, dirigiu uma equipe fotográfica de combate da Marinha dos Estados Unidos.

Em 1947, foi nomeado diretor de fotografia do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MOMA). Em 1955 preparou a exposição fotográfica The Family of Man, que posteriormente deu volta ao mundo.

Buscou a interpretação emotiva e impressionista em seus temas e lutou para que a fotografia fosse reconhecida como uma manifestação formal de arte. Faleceu em 1973.
(Fonte: http://www.npg.si.edu/exhibit/steichen/index.htm)


Isadora Duncan, 1913.

Charles Chaplin, 1925.


Engene O' Neil, 1932.

Sobre o amor [2]


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Quantas vezes ela teria que dizer adeus?

Ah, eu amo as entrelinhas, o que é sutil e algumas vezes, o indizível.

Quantas vezes ela teria que dizer adeus?

Como se dá a alguém um pedaço de céu? 

E o riso dele? Era algo absolutamente dominador. Ninguém tinha a menor chance diante dele. 

Essas são algumas frases do livro A menina que roubava livros. Recomendo apreciar esta leitura ou presentear alguém que adora ler:

 A menina que roubava livros, de Markus Zusak.




A história é retratada durante a 2ª Guerra Mundial na própria Alemanha.  Liesel Meminger é a menina que dá o nome à obra onde têm três encontros com a morte, conseguindo enganá-la em todas as ocasiões.
Ela é uma narradora muito enigmática e que esbanja simpatia. Apesar de admitir que não, ela é cativante. 

Liesel sofreu fortes consequências na Alemanha de palavras cruéis, mesmo antes de conhecê-las. Perdeu sua mãe biológica, por ser comunista. A menina e seu irmão foram enviados para uma família do subúrbio alemão, mas Liesel perdeu-lhe para uma doença. Foi no enterro do irmão, que rouba seu primeiro livro e depois acaba por tornar uma prática prazerosa. É por este ato, que ela inicia seu interesse pela leitura. 

A partir daí, descobre este poderoso mundo das palavras. Poder que lhe trouxe uma vida conturbada, porém memorável, mesmo que as pessoas que amava tenham-lhe sido roubadas.  

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Você achava que era do The Doors?


Alabama Song composição de Kurt Weill para a peça "Ascensão e queda da Cidade de Mahagonny" de Bertold Brecht.


- Mais fácil vocês tirarem o ouro dos homens do que dos rios, diz a Senhora Begbick.  

A narrativa conta a história de uma cidade fundada por três foragidos, que à procura de ouro e refúgio, decidem fundar uma cidade dos prazeres. No meio de um deserto, criam Mahagonny, a cidade onde todos podiam gozar do álcool, mulheres e do jogo, desde que se tivesse dinheiro. 

Paul Ackermann, um lenhador do Alasca, chega à cidade com mais três companheiros: Joe, Heinrich e Jakob. Após terem passado sete longos invernos trabalhando, os quatro decidem desfrutar a boa vida em Mahagonny. Tudo vai bem até que Paul percebe que não é ali que mora a sua felicidade. Ainda falta alguma coisa. 

Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny fala sobre a busca pela satisfação, a adequação/inadequação do indivíduo à sociedade e o preço de nossas escolhas.   

A letra da música é de Kurt Weill, que se tornou famosa ao ser interpretada pela banda The Doors. “Alabama Song."  

Essa é a original [1]

Sim, se você assim como eu, achou que a música é parecida com a Gangsta's Paradise do rapper estadunidense Coolio tema do filme Mentes Perigosas (1995): você não está equivocado(a)! Porém, a base melódica original é nada menos que do Mr. Stevie Wonder. Cá pra nós, a original, é BEM MELHOR!  

L'enfer (1964) - 0 Inferno.

L'enfer (1964), este filme não foi finalizado. Com Romi Schneider e Serge Reggiani no elenco teve a direção de  Henri-Georges Clouzot. O filme era bastante esperado na época devido ao drama enigmático, ao orçamento alto e a grande fama pelos clássicos já filmados anteriormente por H.G. Clouzot: "O Corvo" e "As Diabólicas", porém após três semanas intensas de gravações, o filme foi interrompido pela morte súbita do cineasta.

O drama narra as alucinações de um gerente de hotel na Provença enlouquecido de ciúmes pela esposa. As imagens ficaram congeladas e inéditas por 40 anos.

Em 2009, os diretores Serge Bromberg e Ruxandra Nedrea conseguiram recuperar essas imagens e contam como foi a história desta filmagem interrompida.

Vale a pena conferir um pouco dessas imagens e ter uma noção de como teria sido o produto final, além de apreciar o experimentalismo deste grande cineasta.



(Fonte: Achei poucos registros na língua portuguesa sobre este filme. Uma pena. Peguei essas informações da Mostra.Org/Filmes e do site IMDB em inglês).  

Sobre o destino [1]

Destino em francês quer dizer Destin, mas os franceses soletram 'Distans'. Para mim soa, como se fosse a palavra distância. Talvez, seja por isso que eu acredito que o destino, assim como o amor, é algo distante. Algo fora do espaço e do tempo. E após assistir o filme Ironias do Amor (2008), isso ficou mais forte e nítido para mim.




“O destino é uma ponte que você constrói até a pessoa amada.”

"Só sei que quando o destino precisa se cumprir,  não pode fazer isso sozinho. "

"Vamos supor: que ajeitar e modelar o destino é na verdade o seu destino."

"É por isso que os seres humanos existem, para salvar uns aos outros de si mesmos."

"Eu acredito que um dia, vou conhecer alguém do futuro."  


Hamlet, de William Shakespeare.


Hamlet, filmado em 1948 direção e atuação de Laurence Olivier. 


"Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e setas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provações
E em luta pôr-lhes fim? Morrer... Dormir: não mais.
Dizer que rematamos com um sono a angústia
E as mil pelejas naturais herança do homem:
Morrer para dormir... É uma consumação
Que bem merece e desejamos com fervor.
Dormir... Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo:
Pois quando livres do tumulto da existência,
No repouso da morte o sonho que tenhamos
Devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita
Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios..."

Solilóquio do Príncipe Hamlet, Hamlet - William Shakespeare

Se este solilóquio resumisse uma obra, já iria impressionar qualquer leitor com menos conhecimento sobre este autor e esta peça já seria considerada uma obra prima, mas há tantas outras frases e citações tão magníficas que uma postagem é muito pouco para o primor de Hamlet.


E, parafraseando Nelson Rodrigues: "Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia..."

Sim, sou fã fervorosa desta obra. Já devo ter lido umas centenas de vezes. E muitas vezes, sou até meio xiita quando alguém diz que não conhece ou ainda não leu. Já emprestei, pelo menos uns 6 livros de bolso (sem volta) dessa peça, na esperança que as pessoas possam ler.     

Hamlet, príncipe da Dinamarca, peça escrita, provavelmente, em 1600/2, é seguramente a tragédia de Shakespeare mais representada em todos os tempos. Praticamente todos os escritores e pensadores importantes nos últimos quatro séculos deixaram suas impressões sobre o impacto que lhes causou a história do infeliz príncipe da Dinamarca, constrangido a fazer, sem nenhuma vocação para tal, uma terrível vingança.

Schilling (2001), destaca que Hamlet é a peça mais longa escrita por Shakespeare (4.042 linhas com 29.551 palavras, 73% delas em verso e 27% em prosa) e, provavelmente, a que mais lhe deu trabalho. Supõe-se inclusive a existência de um esboço original que teria sido alinhavado uns dez ou 12 anos antes da sua conclusão, por volta de 1588. Texto que os críticos denominaram de Ur-Hamlet (um primeiro Hamlet). Isso, porém são especulações, pois a influência mais direta sobre ele veio mesmo da peça The Spanish Tragedie, de um autor de menor importância chamado Thomas Kyd, que a encenou possivelmente em 1590. 


Vou listar algumas frases para aguçar a leitura desta peça para quem ainda não leu ou para quem possa relembrá-las: 

"O mundo está fora dos eixos.
Oh! Maldita sorte! 
Por que nasci para colocá-lo em ordem?" ...  

"Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia, Horácio."

"Fragilidade, teu nome é mulher. " (Hamlet fala de sua mãe). 

"Vai-te para um convento. Por que desejaria conceber pecadores? Eu mesmo sou razoavelmente honesto, mas ainda assim poderia me acusar de tais coisas que fora melhor que minha mãe não me houvesse parido: sou muito orgulhoso, vingativo, ambicioso, com mais ofensas a meu dispor do que tenho pensamento onde pô-las, imaginação para dar-lhes forma, ou tempo para nelas atuar. Que deveriam sujeitos como eu fazer rastejando entre a terra e o céu? Nós somos rematados velhacos, todos, não creia em nenhum de nós. Entra para um convento." (Hamlet para Ofélia).

"Que obra de arte é o homem! Que nobre na razão, que infinito nas faculdades... 
E, mesmo assim, o que é esta quintessência do pó?” 

"Se tiver que ser agora, não está para vir; se não estiver para vir, será agora; e se não for agora, mesmo assim virá. O estar pronto é tudo."

"O resto é silêncio."

(Fonte: vários sites sobre o resumo e frases da obra de Hamlet). 

Quintana, uma paixão antiga.

Às vezes, a gente pensa que está fazendo bobagens e está fazendo poesia." *Mário Quintana 





*Mário Quintana, poeta gaúcho nascido em Alegrete, em 30 de julho de 1906, e morreu em 5 de maio de 1994, em Porto Alegre. Trabalhou em vários jornais gaúchos. Traduziu diversos autores entre eles, destaco: Marcel Proust, Joseph Conrad, Honorè de Balzac. Em 1940, lançou a Rua dos Cataventos, seu primeiro livro de poesias. Depois escreveu Canções (1946), Sapato Florido (1948), O aprendiz de Feiticeiro (1950), Espelho Mágico (1951), Quintanares (1976), Apontamentos de História Sobrenatural (1976), A Vaca e o Hipogrifo (1977), Prosa e Verso (1978), Baú de Espantos (1986), Preparativos de Viagem (1987), além de várias antologias.
(Fonte: Jornal da Poesia).

Sobre o amor [1]


Não adianta querer entender meu amor dadaísta*. 










*O dadaísmo originou-se durante a primeira guerra mundial na Suiça (que era neutra ao conflito) e segundo seu principal líder Tristan Tzara a palavra Dadá, não significa nada.Criado num clima de instabilidade, medo e revolta provocado pela guerra, o movimento dadaísta pretendia ser uma resposta à nítida decadência da civilização representada pelo conflito. Daí vêm a irreverência, o deboche, a agressividade e o ilogismo das manifestações dadaístas.

Encontros e desencontros.

Há quatro anos, eu me despedia do mundo dos blogs. Encerrei minha conta: Café com Cigarras. Estava aliviada, como quem faz a faxina da casa, rasga todos os papéis inúteis e finaliza o ato triunfante jogando o isqueiro pelos escritos para provar meu total desapego com as palavras e as frases ditas por mim.

Estava em crise com a minha escrita. Com a minha arte. Com a minha vida. E em meio essa crise, achava que as frases curtas e de impacto eram o caminho para o futuro. E realmente não estava errada. Hoje tudo se resume em 140 caracteres. Até as frases têm prazo validade.

De lá pra cá, o tempo passou: alguns pensamentos mudaram. Outros, não. E foi muita proveitosa essa PAUSA. Foi possível esvaziar o que já não valia mais a pena.

Ainda bem, porque agora estou de volta: RECARREGADA e com novos ares. Novos encontros. E mesmo distante das palavras que não pronunciei, vou acreditar que os poetas e escritores nunca folgam aos domingos e feriados!