domingo, 31 de março de 2013

Simplesmente Martha Ou Sem Reservas


O primeiro filme que assisti deste gênero A Festa de Babette, bem, digo gênero porque na minha opinião deveria ter um nome específico para classificar filmes que homenageassem a arte da culinária. Afinal, o cinema visita à boa mesa há muito tempo. Até a Animação não ficou de fora: Ratatouille, um rato que vive em Paris e sonha ser um Chef de Cozinha toda a trama gira em torno de fazer um prato com berinjelas, abobrinhas e cenouras entre outras façanhas.

Gastronomia e Cinema, é uma dupla que aprecio muito bem já faz um tempo. Tenho uma coleção de filmes que assisti e que recomendo. Essa apreciação não vem somente pelo tipo de filmografia ou pelo modo como fazem a comida ou pelas dicas de receitas. Parece que os personagens ganham um toque especial: quem cozinha em filmes, parece ter uma certa mágica disfarçada de conhecimento sobre a vida, enquanto cozinham vão falando, vão combinando os temperos ou iguarias e ao mesmo tempo vão passando suas experiências tão peculiares acerca da vida.

Além disso, os filmes com o tema da comida provocam diretamente dois dos nossos cinco sentidos: olfato e o paladar. O olfato está muito relacionado como processamos nossos sentimentos, lembranças: sejam elas boas ou ruins. E o paladar é que nos motiva a reconhecer os gostos. E o que mais me intriga entre a combinação Cinema e a Gastronomia / Culinária, quando esses filmes são apresentados, é perceber como é possível transmitir ao espectador uma mensagem através de um simples prato de comida?

Bom, os dois filmes que menciono abaixo praticamente se passam na cozinha de um restaurante, um local que raramente vamos, mas que temos uma imensa curiosidade para conhecer.

Escolha seu cardápio e bom apetite!

Começo falando por Simplesmente Martha (2001) filme de origem alemã que ganhou sua versão hollywoodiana em 2007 pelo nome de Sem Reversas. Bom, vou falar muito pouco sobre a 2ª versão porque a filmagem foi feita valorizando o gênero comédia romântica, onde todos os clichês se enrolam e desenrolam de maneira superficial, logo fica ínfimo para toda a sensibilidade da versão germânica. Por aí, já se pode concluir que recomendo assistir a versão original, certo? Errado. Sugiro, assistir os dois até porque a relação entre os personagens fica sutilmente diferente quando enquadradas no formato estadunidense. Incrível, mas acontece!

A partir daqui pode ter S.P.O.I.L.E.R.

Simplesmente Martha (2001) - Direção Sandra Nettelbeck



Martha (Martina Gedeck) , uma mulher sisuda, Chef de cozinha de um restaurante chique em Hamburgo, Alemanha. Ela sabe fazer os pratos mais requintados, porém está à beira de um stress por ser muito rígida com a própria vida. Não têm relações com seus colegas de trabalho. Logo, é obrigada a fazer terapia por exigência de sua patroa. Na verdade, tudo isso é velado para mostrar a sua não habilidade para conviver com as outras pessoas onde a comida é a única maneira como ela consegue se comunicar com as pessoas.

Até que um acontecimento provoca mexer com esse universo tão hermético: sua irmã falece em um acidente, ela é obrigada a ser tutora da sobrinha de 8 anos, Lina (Maxine Foerste) . Ao mesmo tempo, a sua patroa contrata Mario(Sergio Castellito), um Chef italiano, simpático e extrovertido.

Lina via morar com ela. Começa a primeira invasão do seu espaço. Em seguida, a contratação de Mario, como sub-chefe provoca em Martha um sentimento de ameaça profissional. Mario esbanja simpatia e leveza na combinação dos temperos. Conquista a todos, inclusive Lina. Por outro lado Lina, sente muito a falta da mãe, as duas não conseguem relacionar-se de forma tranquila. Há um choque muito grande tanto pela perda da mãe como pela maneira que Martha cuida dos afazeres com Lina. A menina não aceita o seu jeito de cuidar. Martha por sua vez perde controle da situação que vai ficando cada vez mais problemática. Esta adaptação provoca até greve de fome em Lina, que rejeita a comida preparada por Martha.

Tudo parece óbvio para o desfecho que os opostos se atraem e basta ter uma simples criança para que uma pessoa solteira (o) comece a se sensibilizar e tudo fica azul dentro de um mundo perfeito, certo? Nem tanto. É aí que Martha vai desconstruindo sua sisudez por uma convivência forçada onde ela precisa amadurecer emocionalmente e ao mesmo tempo construir uma relação entre tia e sobrinha que até então, não havia.

Nesse ínterim, temos Mario, uma pessoa que encara a vida profissional como um bon vivant. Tudo é arte, inclusive o ato de cozinhar. Mesmo que se use ingredientes simples para fazer algo que entusiasme as pessoas, como se fosse uma magia. Há uma cena que ele vai cozinhar no apartamento de Martha para ela e sua sobrinha. Ele deixa Martha vendada para que possa saborear a comida, para que se descubra outras sensações além do 'comer com os olhos' onde a cena impera silêncio e uma grande reflexão do que ela tem colocado pra dentro de si. Martha precisa redescobrir o sabor pela comida, ou melhor, redescobrir o sabor pelas coisas da vida. Essas sutilezas vão se perdendo na versão remake Sem Reservas onde o roteiro fica mais enxuto, mais focado nos clichês das comédias românticas do que nas relações humanas ou nas possibilidades de transformação como ocorre com a protagonista Martha ao longo da história.
Dica: Quando assistir Simplesmente Martha, fique até os créditos porque terá uma bela surpresa no final. Muito interessante. Não vou revelar, mas vale a pena.


Sem Reservas (2007) - Direção Scott Hicks




A história se passa em Manhatan com Caterine Zeta-Jones (Kate Armstrong-Martha) e Aaron Eckhart (Nick-Mario) no elenco, e 'tentando' seguir a mesma receita do bolo. Não sei se o leitor deste blog perceberá, mas há um jogo de 7 erros na apresentação dos personagens de um filme para o outro. Em Sem Reservas apresentei valorizando o elenco e não os personagens. Isso para mim, já conta com uma grande diferença desta versão remake. Uma proposta mais comercial sobre a história. E se considerarmos que Simplesmente Martha seja um apenas bolo, vale lembrar que faltou fermento e foi colocado muito chantilly e cereja nesta receita, na minha opinião.

Agora se você deseja e gosta de assistir comédias românticas bobas onde duas pessoas bonitas que se odeiam e obviamente vão se apaixonar no final, com pitadas de beleza, elegância e cheios de maneirismos:  este pode ser seu prato principal do dia, mas não vá esperar muita coisa mais que isso.

Nesta versão, houve cortes significativos de roteiro e cortou principalmente a carga da protagonista do Simplesmente Martha, colocando uma mulher mais dentro dos padrões da modernidade: típica personagem de estatística consumo do que um ser humano cheio de conflito.

O ponto alto do filme é a química do casal que vale a pena assistir pelos atores que gosto muito, porém não nesses papéis. E pela fofa da Abigail Breslin, que faz a sobrinha Zoe (Lina).

P.S. Existem outros filmes que admiro onde o personagem principal acaba sendo a comida. Com certeza, em breve postarei aqui. 
Esses dois filmes, não se resumem apenas a isso. Eu quis fazer uma postagem que falasse de um filme de Culinária  onde a personagem principal (cozinheira) fosse uma pessoa cheia de conflitos,  porém sem aquela 'sabedoria' que descrevi no início da postagem. 

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